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Terapia do luto pet

O Guia Pet Friendly conversou com a psicóloga, palestrante, escritora e consultora Juliana Sato, formada pela Mackenzie e membro com certificação internacional em luto pet pela APBL, Association for Pet Loss and Bereavement, sobre terapia do luto pet.

A paralisia que gerou movimento

A Juliana sempre teve uma ligação com animais e desde sua infância conviveu com cachorros da família. Hoje, ela tem o chihuahua Bolinho e a dachshund Melissa e permite, que convivam dentro de casa, diferente da relação existente décadas atrás, onde os cães viviam no quintal de casa.

Em outubro de 2021, a pet Melissa mostra dificuldades de locomoção nas patas traseiras. “Eu já tinha certificações em luto em diferentes contextos, portanto, sabia que o luto também engloba doenças e, por isso, percebi que ali começava um luto antecipatório”, relata Juliana.

Além de enfrentar a dor, o medo e a insegurança diante de uma situação nova e inesperada, a psicóloga igualmente sofreu a incompreensão da família, que não entendia sua relação com a cachorrinha, sendo assim, não teve o suporte e empatia que tanto se faziam necessários naquele momento. “Eu me sentia muito sozinha”, desabafa.

Com isso, a Juliana tomou a decisão de estender a terapia do luto para o universo que engloba os tutores do animais de estimação e os veterinários.

O luto proibido

O luto é um assunto delicado e temido pela sociedade em geral. Quem está vivenciando-o consegue compreender a dificuldade de reação e enfrentamento, mas quem olha de fora, enxerga o individuo como fraco e dramático. Quando aplicado aos pets, este abismo é ainda maior como explica Juliana: “Segundo Doka (1982) do livro Disenfranchised Grief, a sociedade não tem regras explícitas de por quem, por quanto tempo e como o luto deve ser vivido. E o luto pelo Pet não é autorizado, reconhecido e validado”.

Com isso, muitas pessoas sentem-se envergonhadas de admitir que estão sofrendo pela perda de um animal. Outras têm medo de serem julgadas e ridicularizadas. A falta de diálogo resulta em um processo ainda mais doloroso. “Apesar de termos um movimento de pessoas enlutadas pelos seus pets, como a Cris Berger, ainda escutamos frases como: “É só um cachorro, mas já faz um mês e você ainda está chorando pelo bicho, compra outro”, Juliana exemplifica.

A verdade é que cada cão é único, assim como, o vínculo estabelecido entre o humano e o animal. Substituir um pet pelo outro, não trará de volta o que se foi. Portanto, Juliana aconselha as pessoas a terem um novo animal quando tiverem clareza de sentimentos e consciência do que está sendo feito. “A sociedade precisa aprender a respeitar a dor do enlutado no tempo dele, por este pet e por esta história construída e compartilhada”, salienta.

Como passar pelo luto

“Se você não tem uma rede de apoio ao seu lado, construa sua própria forma de viver este processo”, orienta Juliana, que usa o exemplo da jornalista Cris Berger, a qual decidiu escrever um livro sobre sua história com a cachorrinha Ella. Outra ideia interessante é: criar um álbum de memórias. “Encontre uma maneira de expressar seu luto e colocar para fora esta dor. Há vários caminhos, não fuja do sentimento”, sugere.

A terapia é muito importante neste momento de absoluta fragilidade. E mesmo as pessoas, que não possuem recursos financeiros podem recorrer ao SUS pelo serviço de apoio ao luto através do Proalu Programa de Acolhimento ao Enlutado.

Juliana lembra que não há regras rígidas quando tratamos de perda: “O luto não tem tempo. A saudade vai existir e você vai pensar naquele ser que ama talvez todos os dias. O que muda é a intensidade da dor, pois com o tempo ela vai diminuindo”.

O esperado é que chegue um momento que a lembrança de quem partiu seja “abraçada” e não evitada. Caso a dor não fique branda é indicado ao enlutado procurar apoio de um psicólogo, que o ajudará a ver com clareza a realidade e elaborar este momento, que fatalmente será vivido por todas as pessoas, sem exceção.

Os familiares e amigos devem deixar que o enlutado mostre como deseja ser tratado e conduzir seu processo, lembra, Juliana, que orienta quem está em volta a ter paciência: ” Escute, pois o enlutado ainda está elaborando o processo”. E orienta a não presentear quem perdeu seu pet com outro animal.

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