No quarto episódio da série “Crianças&Pets”, nossas protagonistas Ana e Márcia falam sobre o real mergulho na maternidade.
Olá, Ana
Sim, o início da maternidade é muito difícil. Lembro do desespero que senti no momento que fiquei sozinha com aquele ser de 50 centímetros, totalmente indefeso e precisando de mim, que no caso, necessita desesperadamente de apoio. Eu não sabia como segurar, amamentar, trocar a fralda e fazê-lo dormir.
No espelho eu via a imagem de uma mulher com olheiras, cabelo preso de qualquer jeito e perguntando onde havia ido parar sua liberdade. Eu soluçava. As madrugadas foram longas. Muitas vezes, o cansaço tomava de mim e eu dormia sentada amamentando ou simplesmente passava a madrugada chorando enquanto alimentava meu filho.
E foram justamente nessas longas madrugadas que o Thor me deu o suporte que eu tanta precisava. Ele deitava ao meu lado, quietinho. Nossos olhos se encontravam, nos conhecíamos a um bom tempo, éramos amigos e cúmplices. Parecia que ele dizia: estou aqui e vai dar tudo certo. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, o cansaço parecia ser insuportável, mas a presença dele me trazia capaz. Eu não estava só por mais que me sentisse.
O Thor fazia parte da minha equipe. Ele era convidado para me acompanhar em todas as tarefa: “Thor, vamos trocar a fralda. Thor, vamos dar banho”. Na maioria das vezes, ia ver o que estava acontecendo. Quando o Miguel chorava, nos avisava. Logo, dispensei a babá eletrônica. Enquanto eu amamentava, deitava ao meu lado. Sua presença me fortalecia e me deu forças para suportar o lado “escuro” da maternidade, que ninguém nos conta.
beijos, Ana
Querida Márcia
Depois que o Franco nasceu compreendi porque privação de sono é um método tão efetivo de tortura. O desgaste é tão intenso e constante que chega a ser desesperador. Ninguém te prepara para isso. E a Pipa, tadinha, viveu esse desgaste também.
Ela sempre dormiu no nosso quarto e assim seguiu depois do nascimento do Franco. E durante “os bailes” da madrugada ela me acompanhava de perto enquanto eu fazia um circuito de caminhada pela casa balançando o bebê.
Lembro direitinho de uma noite, em que o Franco acordou chorando pela terceira vez. Ela levantou comigo, ficou ao meu lado alguns minutos e depois partiu para a sala para se enrolar no sofá e dormir. Ela havia desistido. Confesso que não me senti abandonada…acho que até senti inveja na verdade. Poder jogar tudo pro alto e ir dormir era tudo o que eu queria também.
Mas aquele ser minúsculo precisava (e gritava) por mim….então lá seguimos nós, na nossa caminhada noturna, um participante a menos.
Fico impressionada como somos seres tão evoluídos e nascemos tão despreparados. Não conseguimos sequer arrotar sozinhos nos primeiros meses! E a comunicação inicial é tão precária…lembro que diziam que mãe entende cada choro do bebê: se é choro de fome, de sono, de dor….falavam isso pra ti também? Eu, boba, imaginei que esse conhecimento inteiro já estava dentro de mim. Que nada!
Nos primeiros meses eu só ouvia berros inexplicáveis que eu tentava acalmar na base da exclusão: fralda está ok, fome não é, será que é calor, então? Ou frio talvez….? A Pipa pode ser de uma espécie diferente da minha, mas a nossa comunicação dava um baile na que eu tive com meu filho nos primeiros meses. E foi nessa comunicação que vi nos olhos dela durante várias noites a pergunta: “até quando?”
Muitas vezes, me tranquei no banheiro e chorei. Chorei de cansaço, de arrependimento, de medo, de tristeza. Foram dias muito difíceis e eu só repetia na minha mente um mantra: “isso vai passar, isso vai passar, isso vai passar”. E quando tudo parecia que ia desabar, algo inesperado acontecia e nos dava forças. O Franco agarrava nossos dedos, a Pipa cheirava aquela cabeçinha com o seu nariz gelado e arrancava uma risada dele, um murmurar se sílabas soltas que eu juro que era “mamãe”. E passados alguns meses, mudei o mantra para “eu mãe”.
Vamos para o quinto capítulo? Confere aqui.