Fiéis Companheiros

Você se lembra da cena do filme Náufrago (2000), com Tom Hanks? Da emocionante cena em que ele chora desesperadamente quando a bola de vôlei se desprende de sua embarcação improvisada? “Wilsooon”, grita ele, com dor. O ser humano precisa de uma companhia. Em tempos de isolamento social, isso ficou ainda mais notório. Já parou para analisar o quanto os cachorros têm assumido um importante papel afetivo em nossas vidas?

Ivan Moreira só vai em lugares em que pode levar seu cachorro surfista Bono. Foto Arquivo Pesoal

E o que a psicologia fala sobre isso? O que nos motiva a querer ficar mais tempo com nossos pets? A psicóloga Sônia Russo levanta pontos que deixam claro essa dependência emocional: a companhia de um cão estimula o sistema límbico do cérebro, que interfere nas emoções. A relação de afeto estabelecida com os cães aumenta os níveis de oxitocina e a produção de serotonina e dopamina, responsáveis por combater a depressão e a solidão e, consequentemente, favorecem a felicidade e o bem-estar. Tudo faz ainda mais sentido.

Vamos esquecer por um minuto a necessidade de reclusão social. Assim que a vacinar sair, poderemos voltar a frequentar parques e praças com nossos pets e, mesmo que a gente vá sozinho, dificilmente ficará só por muito tempo. Outros humanos estarão ali com o mesmo propósito que você. Trocar dicas, telefone de veterinários e falar sobre trivialidades da vida do seu cachorro será esperado e, quando você perceber, uma amizade poderá acontecer. Ou algo a mais. Os psicólogos vêm essa dinâmica como algo positivo para combater a depressão e a ansiedade. Quem está com um cão nunca se sente só.

Outro aspecto importante: a autoestima de sentir-se amado. Quem tem cachorro sabe como é prazeroso receber aquele olhar apaixonado que o segue por onde você vá. Sem julgamento e com um amor incondicional que não olha porte físico, classe social ou partido político. Cães amam e só.
Segundo Sônia Russo, “algumas horas por dia na companhia do seu pet são mais eficazes do que alguns medicamentos”.

Às vezes questiono se apenas eu e a Ella, minha sharpei, temos uma vida tão próxima. Mas logo me lembro do personal trainer Ivan Moreira dizendo que se o Bono (seu labrador, pentacampeão de surf dog, na foto) não for, é melhor nem chamá-lo. Ou do jornalista Celso Zucatelli comentando que só viaja para onde pode levar a dupla Paçoca e Mandioca. Então, quando escuto o ator Jean Visconti dizendo que depois que adotou a Kimi só busca por programas e locais que possa ir com ela, tenho certeza de que outras pessoas descobriram, como eu, o poder da oxitocina.

Coluna publicada no Estadão.

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