Essa é a minha primeira reportagem sobre cachorros a bordo de um ônibus rodoviário e, certamente, não será a última. Quando eu vi a bancária Eloísa Mayumi Uehara Wataya viajando com o seu cachorro Karê da raça papillon, fiquei curiosa. Eu e a Ella ainda não tivemos essa experiência porque não é permitido animais acima de 10 quilos a bordo dos ônibus e a Ella tem 18. Aproveitando para ressaltar que essa limitação de porte é ilusória, afinal o que vale é o comportamento do cão e não o seu peso.
Regras
Conforme a Eloísa nos contou, as regras variam de uma empresa para a outra. A Pássaro Marrom aceita cães de até 10 quilos e a Viação Fênix limita a 8 quilos. Os cães devem viajar dentro da caixa de transporte e não podem sair de dentro dela durante a viagem. Apesar da exigência da caixa ser rígida (algumas citam fibra, outras não especificam), a Eloísa conseguiu autorização para usar a sua bolsa de transporte que tem fundo emborrachado e as laterais com telas de tecido.
Diferente do avião, há a opção de comprar um assento e a caixa ir em cima do banco e não embaixo da poltrona da frente como é regra das companhias aéreas, o que obviamente agradou a Elo: “A viagem de ônibus é mais silenciosa que a de avião e como tivemos o assento ao meu lado, para nós foi super tranquilo”.
Preparo
O cão deve ser acostumado à caixa de transporte antes de fazer uma viagem caso contrário ele pode estranhar, chorar, latir sem parar e transformar a viagem do tutor e, de todos a bordo, em um suplício. Portanto, não se aventure a fazer uma viagem sem prévio preparo e saiba que o tempo de adaptação pode ser de semanas a meses e deve acontecer de forma gradativa e associada a estímulos positivos. Um educador canino pode ajudá-lo neste processo.
Além disso, lembre-se que antes de entrar no ônibus seu cachorro será exposto a barulho e movimento de uma rodoviária, portanto, parte do treino deve ser acostumá-lo com estes estímulos, que se não forem normais para o seu cachorro pode causar ansiedade e gerar estresse nele. “O Karê está acostumado a viajar de carro, trem, metrô e avião, então não estranhou o ônibus. Ele não latiu nenhuma vez e até dormiu na volta de Serra Negra”, relata Elo orgulhosa.
Segurança
Carro, ônibus ou avião: não importa a forma de transporte, o uso do cinto de segurança é obrigatório para todos e deveria ser utilizado, inclusive para prender a caixa de transporte, porém isso ainda não foi pensando pelas empresas rodoviárias e, por isso, a Eloísa teve que improvisar e usar o cinto do assento acoplado na caixinha. “Já pegamos um ônibus que não tinha cinto e ambos ficamos desprotegidos”, desabafa.
Bom comportamento
Nas viagens do Karê, os demais passageiros ficaram surpresos de que havia um cachorro presente e mostraram-se curiosos querendo saber mais sobre como é viajar com um cachorro. Essa é a cena que deve acontecer para que a gente consiga negociar o transporte de cães de porte maior nos ônibus.
Os xixis
A maior tensão ao viajar é coordenar a hora do xixi porque não temos como fazer o ônibus parar para nosso cachorro fazer suas necessidades, portanto, ele deve fazer antes de embarcar e a água deve ser suspensa para evitar que a bexiga fique cheia.
No caso do ônibus, essa dinâmica é mais fácil do que no avião, o qual exige chegarmos mais cedo para fazermos o chek in. Sem falar, que devemos ir para a área de embarque muito bem antes do avião decolar. Alguns aeroportos oferecem uma área de alívio dentro do embarque, mas ainda são poucos.
Nas viagens terrestres mais longas existem as paradas nos postos de gasolina, porém a Eloísa não pôde contar com esse benefício e teve que explicar aos motoristas que seu cachorro precisava fazer xixi. “Eram apenas paradas para embarque e desembarque de passageiros. Nestes trechos pedi ao motorista para descer com o Karê e todos foram compreensivos e autorizaram”, relembra Elo.
E não é só as necessidades fisiológicas do karê que geram preocupação, como a Eloísa não sabe se ela pode entrar no banheiro do ônibus com o Karê ou até se ela conseguiria fazer xixi e segurá-lo ao mesmo tempo, evita consumir líquidos antes e durante o trajeto.
Aeroporto X rodoviária
Na hora de opinar sobre qual é a melhor forma de viajar, a Eloísa vota no ônibus considerando o valor da passagem ser menor e não sofrer aumentos alarmantes em feriados ou meses de alta temporada. Além, é claro, de ter a possibilidade de comprar um assento para o Karê e assim tê-lo pertinho de si. “Acho que a única vantagem do avião é ir a lugares mais longes e de forma mais rápida”.
Despreparo
Como todos os meios de transportes coletivos a acessibilidade dos cães é restrita e o serviço falho, portanto, um dos conselhos da Eloísa para quem pretende viajar com seu cachorro de ônibus é buscar a informação no site da empresa rodoviária, ligar para confirmar e anotar os protocolos de atendimento. “Vi uma regra bizarra de uma companhia que informa que é obrigatório sedar o animal. Achei um absurdo”, desabafa.
A empresa a que a Eloísa se refere é a Águia Branca, que tem no seu site: “.O animal deve estar sedado ao embarcar e permanecer durante toda a viagem”.
Pior ou tão terrível quanto isso são as leis que mudam de estado para estado, ou seja, você pode ir para um destino e não poder voltar caso a regra da companhia difira na quantidade de quilos permitida. E que venham as mudanças!
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