Os gatos ainda não são maioria nos lares brasileiros, mas tudo indica que este número vai aumentar e no futuro eles vão dominar as residências. Gatos apesar de serem animais domésticos são muito diferentes de cachorros! É fundamental conhecer seus hábitos e origem e ancestrais para entender sua dinâmica.
Veja abaixo a entrevista com a médica veterinária Karin Botteon da Boehringer. Foi uma verdadeira aula sobre gatos. Confira também a coluna no Estadão e live no Instagram.
O cachorro vem do lobo. E o gato?
Karin Botteon: A familia Felidae é dividida em três gêneros: Panthera (que engloba a maior parte dos grandes felinos: leões, onças, leopardos, tigres), o gênero Acinonyx (que inclui o guepardo, também conhecido por Cheetah) e o Felis (onde estão os pequenos felinos, incluindo aqui o Felis catus que é o gato doméstico). O ancestral mais aceito como tendo dado origem ao gato doméstico é o Gato selvagem africano (Felis sylvestris lybica).
Os gatos foram domesticados muito depois dos cães, há cerca de 10 mil anos (cães há mais de 100 mil anos), portanto, algumas similaridades de comportamento entre os felinos domésticos e selvagens ainda são notáveis. Os felinos, com exceção dos leões, são animais solitários e territoriais sendo capazes de caçar e se defender por si só. Embora os pequenos felinos serem excelentes predadores, na natureza são presas fáceis pelo tamanho. Por essa razão não podem demonstrar vulnerabilidade e daí vem a impressão de que “escondem” as doenças. Na verdade, são mais discretos do que os cães e as alterações relacionadas as doenças acabam se manifestando muito mais por mudança de comportamento.
Como os veterinários devem receber um gato?
Como deve ser o ambiente e o atendimento?
O que é “cat friendly”?
O conceito “Cat Friendly” diz respeito a oferecer um ambiente adequado à espécie felina levando em consideração o seu bem-estar físico e mental. Ele vale para a casa do tutor e clínicas veterinárias. Uma das maiores preocupações dos tutores de gatos, de uma maneira geral, é o estresse ao qual ele é submetido quando visita o veterinário.
Para os gatos o transporte até a clínica, contato com cheiros diferentes, cães latindo, outros gatos próximos é um evento estressante e isso é notável tanto no comportamento do gatinho quanto dos tutores, que sofrem com a situação!
As diretrizes são desenhadas para atender tanto clínicas e hospitais mistos (para cães e gatos) como exclusivos de gatos. Algumas das premissas para se tornar “Cat Friendly” é ter salas de espera e de atendimento exclusivas com locais altos para colocar a caixa de transporte e os gatos subirem, uso de feromônios felinos ambientais, pois reduzem o stress e treinamento da equipe para lidar com o paciente felino.
Os cães tem mais facilidade em “enxergar” a visita ao veterinário como um passeio ou momento de interação com o tutor, aceitam o contato com outras pessoas e animais. Já o gato tende a sentir medo do desconhecido.
Resumindo: o gato nunca pode ser encarado com um “cão pequeno”, pois são espécies diferentes com necessidades, doenças e comportamentos completamente distintos.
Ter empatia com os gatos e o tutor é fundamental, assim como, ser gentil ao manipular o paciente. Toques gentis, sem movimentos bruscos e voz alta. O ambiente deve ser tranquilo, sem barulhos e circulação de pessoas.
Como o gato deve ser transportado para a clínica veterinária?
Este é um ponto muito sensível. O gato deve ser treinado desde filhote a ver a caixa de transporte como um espaço amigável. Ela deve ser deixada em pontos da casa para os gatos a utilizarem como um ambiente de descanso e proteção. Dentro coloque um pano macio e confortável. Use uma toalha para cobrí-la durante o deslocamento até a clínica. Conforme for, mantenha assim até ele ser atendido, será bom para diminuir o contato visual com o mundo externo e desconhecido. Escolha caixas que tenham abertura por cima, assim o exame físico pode ser feito dentro dela.
Quais são as vacinas tomadas pelos gatos?
Os gatos precisam ser vacinados com a vacina antirrábica e tríplice, que protege contra rinotraqueite, calicivirose e panleucopenia felina. A vacina contra a Leucemia Viral Felina (FeLV) deve ser considerada em gatos até um ano de idade. Após isso, de acordo com o risco de exposição à doença. A FeLV é muito grave e leva à anemia, diminuição das defesas do organismo (imunossupressão) e até desenvolvimento de tumores.
Como os gatos mostram que não estão bem? Quais são os sinais?
Pela mudança de comportamento: deixar de subir em locais que costumava escalar, mudanças nos hábitos de grooming (deixar de fazer a auto-limpeza dos pelos), o que deixa a pelagem eriçada, com aparência seca e descuidada, distúrbios de eliminação (fazer xixi ou cocô em locais inadequados), irritabilidade e agressividade ao serem manipulados (pegar no colo), deixar de interagir com o tutor e ficar seletivo para se alimentar.
Os check ups deveriam acontecer uma vez por ano?
Para animais jovens com até 7 anos o ideal é fazer um check-up completo por ano. Após isto, pode ser necessário visitas mais recorrentes ao veterinário. Principalmente se houver alteração nos exames físicos ou laboratorial, além de perda de peso, apetite seletivo ou alteração de exames renais.
Quais exames são fundamentais?
No mínimo, além do exame físico feito pelo médico veterinário, deve-se mensurar a pressão arterial e coletar exames laboratoriais como hemograma, função renal, função hepática e exame de urina.
Quais são os cuidados no dia a dia para evitar doenças?
Manter a vacinação atualizada (tanto a múltipla quanto a raiva), vermifugar periodicamente e utilizar produtos contra pulgas e carrapatos de forma perene (mensalmente) e evitar o acesso a rua, pois além do risco de contrair doenças infecciosas, que não podem ser protegidas por vacinação, tem o risco de envenenamento, atropelamento e maus-tratos.
Gatos pegam pulgas mesmo sem sair de casa?
Sim, com certeza, pois mesmo quando os gatos não saem de casa, nós saímos e podemos trazer as formas jovens destes parasitas para dentro de casa na sola do sapato.
Como aplicar antipulgas nos gatos?
A Boehringer tem o Frontline para gatos em spray e pipetas.
Os sprays precisam ser borrifados no corpo todo do animal. São mais utilizados em filhotes ou em casa com um número maior de gatos, pois seu custo-benefício é melhor – um frasco trata vários animais.
Utilize luvas para espalhar o produto pelo corpo e região da cabeça, cuidado com os olhos e a boca. Deixe o produto secar por completo, pois os gatos tem o hábito de lamber-se. Ofereça uma comida úmida para entreter o gatinho ou faça uma sessão de brincadeiras após a aplicação.
Os produtos pour on, os top spot, vêm na forma de pipetas. A aplicação é simples e demanda pouco tempo: deve-se abrir os pelos na região da nuca do gatinho e colocar o conteúdo da pipeta diretamente sobre a pele. Você também pode aplicar em dois ou três pontoa, sempre na região da nuca.
Também recomenda-se deixar o produto secar, caso a casa tenha mais do que um gato e que haja possibilidade de eles se lamberem. Importante: utilize produtos apropriados para gatos, pois muitos produtos destinados para cães contém substâncias que são tóxicas para os felinos.