Era julho de 2020, começo da semana e quase fim do dia. O comerciante de areia Joaquim Dias de Souza estava no seu local de trabalho, na região metropolitana de Belo Horizonte, quando escutou a voz do vizinho dar o comando: “pega o facão”. Em segundos, parou tudo que estava fazendo e pulou o muro para tentar evitar o pior, o que mais temia. Não deu tempo. Quando chegou, encontrou o pitbull Sansão, do seu filho Nathan, com o fuço enrolado em um arame farpado e as duas pernas traseiras decepadas pela foice de seu vizinho. Segundo reportagens publicadas na época, ele justificou o ato dizendo que o cachorro pulava seu muro constantemente.
Coluna publicada para o Estadão.
A tragédia de Sansão ganhou as redes sociais e provocou comoção. E, de repente, a história que parecia ter o pior dos fins ganhou uma nova perspectiva: Sansão foi apadrinhado pelo publicitário Alexandre Soares, da associação de proteção animal Patas para Você. “A crueldade que ele sofreu me tocou muito e eu sabia que, sem ajuda, a família não conseguiria dar todo apoio necessário”, desabafa.
Assim, Sansão começou uma jornada de recuperação e resiliência. Foram dezenas de sessões de fisioterapia e acupuntura, além de medicações diárias para aliviar as dores crônicas e combater infecções. Sansão ganhou uma cadeira de rodas para se locomover e foi projetada uma área especial para ele na casa da família.
Mas o grande legado estava por vir: o projeto de lei 14.064/2020, que recebeu seu nome, foi sancionado em setembro de 2020. Assim, quem cometer atrocidades contra os animais – como no caso de Sansão – poderá cumprir de dois a cinco anos de prisão e não mais apenas assinar o termo circunstanciado.
O próximo passo do grande guerreiro? Literalmente é a chegada de uma prótese que está sendo produzida em Denver, nos EUA, pela Orthopets e o fará andar novamente.
Agora, Sansão não é só o nome do cachorro, que foi brutalmente agredido e, sim, de uma lei em prol de outros animais. Esperamos que seja cumprida à risca. Mais do que isso, mostre que crueldade tem consequência – e pode resultar em cadeia. Não foi o caso do agressor de Sansão. Ele está solto, já que a lei foi aprovada depois do ato de violência.